Faltavam 5 dias para o Natal. Nas ruas e nas montras, ornamentações piscavam o olho aos transeuntes, convidando ao consumo. As pessoas, escondidas por sacos e embrulhos, apressavam o passo para fugir ao frio e aproximarem-se do aconchego de mais um estabelecimento.
Alheia a todo este cenário, desprendida como o casaco que lhe disfarçava o tremor e exalava a última resistência do algodão, muito coçado, à investida do vento, uma figura deambulava entre a multidão. Parecia folha de papel direccionada pelo capricho das correntes de ar: pressentia-se que não tinha destino.
De repente, notou-se uma atitude nova, a criatura fixou o olhar, muito gasto e triste, num anúncio que pendia à porta de um armazém: “ACEITA-SE PAI NATAL”, leu com a dificuldade de quem há mais de 7 anos deixou de procurar em jornais velhos um novo emprego.
Entrou, quem sabe encontraria ali uma forma digna de conseguir, durante alguns dias, os proventos para ir subsistindo. Até seria irónico, ele, que há muito vivia de esmolas, do que lhe davam, poder protagonizar o papel de Pai Natal a oferecer presentes aos meninos.
O armazém estava repleto de brinquedos alinhados em prateleiras, como prisioneiros em caserna guardados por homens, a sério, fardados. Mal o avistaram, aproximaram-se dele rapidamente e, com modos arrogantes, convidaram-no a sair. Disse-lhes que vinha pelo anúncio e encaminharam-no para um gabinete onde um tipo rechonchudo e cara de enjoado o atendeu. Pois que sim senhor, que o aceitavam para trabalhar como Pai Natal nos próximos cinco dias, mas após tomar um banho que o libertasse do cheiro nauseabundo que emanava.
Nada contestou, mas lembrou-se que o Menino Jesus nasceu num estábulo, entre animais, que não deveria cheirar melhor do que ele.
Nos cinco dias, fartou-se de distribuir balões e chocolates, enquanto os pais dos meninos se entretinham a experimentar os jogos de computador, as armas futuristas, os bólides em miniatura.
Num canto escondido do armazém estava um presépio a que ninguém ligava (nem pais, nem meninos, nem empregados). Parecia que a data cuja comemoração se ia celebrar dizia respeito aos brinquedos e aquele senhor de barba branca e vestimenta encarnada – a que chamavam Pai Natal – era o inventor, o Pai do Natal. E o Natal o dia dos presentes.
O mendigo todos os dias visitava o presépio e monologava com o Menino Jesus. Terminado o contrato e antes de devolver o equipamento de trabalho e receber o salário, sorrateiramente, aproximou-se do presépio e depositou junto ao Menino alguns chocolates e balões que, sem ninguém notar, foi guardando. Despediu-se dizendo: “Menino Jesus, ambos somos excluídos. Mas, prometo-Te, para o ano só aceito ser Pai Natal se permitirem que Tu faças de Filho Natal. Pelo menos assim, e durante cinco dias, vão prestar-Te atenção”.
Alheia a todo este cenário, desprendida como o casaco que lhe disfarçava o tremor e exalava a última resistência do algodão, muito coçado, à investida do vento, uma figura deambulava entre a multidão. Parecia folha de papel direccionada pelo capricho das correntes de ar: pressentia-se que não tinha destino.
De repente, notou-se uma atitude nova, a criatura fixou o olhar, muito gasto e triste, num anúncio que pendia à porta de um armazém: “ACEITA-SE PAI NATAL”, leu com a dificuldade de quem há mais de 7 anos deixou de procurar em jornais velhos um novo emprego.
Entrou, quem sabe encontraria ali uma forma digna de conseguir, durante alguns dias, os proventos para ir subsistindo. Até seria irónico, ele, que há muito vivia de esmolas, do que lhe davam, poder protagonizar o papel de Pai Natal a oferecer presentes aos meninos.
O armazém estava repleto de brinquedos alinhados em prateleiras, como prisioneiros em caserna guardados por homens, a sério, fardados. Mal o avistaram, aproximaram-se dele rapidamente e, com modos arrogantes, convidaram-no a sair. Disse-lhes que vinha pelo anúncio e encaminharam-no para um gabinete onde um tipo rechonchudo e cara de enjoado o atendeu. Pois que sim senhor, que o aceitavam para trabalhar como Pai Natal nos próximos cinco dias, mas após tomar um banho que o libertasse do cheiro nauseabundo que emanava.
Nada contestou, mas lembrou-se que o Menino Jesus nasceu num estábulo, entre animais, que não deveria cheirar melhor do que ele.
Nos cinco dias, fartou-se de distribuir balões e chocolates, enquanto os pais dos meninos se entretinham a experimentar os jogos de computador, as armas futuristas, os bólides em miniatura.
Num canto escondido do armazém estava um presépio a que ninguém ligava (nem pais, nem meninos, nem empregados). Parecia que a data cuja comemoração se ia celebrar dizia respeito aos brinquedos e aquele senhor de barba branca e vestimenta encarnada – a que chamavam Pai Natal – era o inventor, o Pai do Natal. E o Natal o dia dos presentes.
O mendigo todos os dias visitava o presépio e monologava com o Menino Jesus. Terminado o contrato e antes de devolver o equipamento de trabalho e receber o salário, sorrateiramente, aproximou-se do presépio e depositou junto ao Menino alguns chocolates e balões que, sem ninguém notar, foi guardando. Despediu-se dizendo: “Menino Jesus, ambos somos excluídos. Mas, prometo-Te, para o ano só aceito ser Pai Natal se permitirem que Tu faças de Filho Natal. Pelo menos assim, e durante cinco dias, vão prestar-Te atenção”.